quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quando recordar não é viver

O jornalismo às vezes é contraditório. Desde as primeiras décadas do século XVII, época das “folhas volantes”, as catástrofes, as tragédias, as abominações, enfim, tudo o que era insólito merecia ser noticiado. Passaram-se centenas de anos e a morte e a violência continuam sendo importantes valores-notícia.

Enquanto isso, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros nos diz que “o jornalista não pode divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes” (Art. 11, inciso II) e “não pode usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime” (Art. 7º, inciso V).

Pois bem, tenhamos bom senso, então! Moramos no país que está na quarta posição do ranking dos 84 países mais violentos do mundo. Não podemos simplesmente virar as costas para isso, consumir com todas as páginas policiais dos jornais e levantar a bandeira branca. Até mesmo porque temos um compromisso com a sociedade de defender os direitos dos cidadãos.

Compromisso este de informar sobre o atual, o novo, e não de requentar a frieza de crimes que abalaram o Brasil há anos atrás, como fez a Rede TV! ontem no programa A Tarde é Sua. Foram cerca de 30 (TRINTA!) minutos de reportagem que reviveu cinco crimes: o caso da jovem Évelyn Ferreira, seqüestrada e assassinada pelo ex-namorado em 2007; os skinheads que atiraram dois jovens para fora do trem em Mogi das Cruzes - São Paulo, em 2003; a jornalista Sandra Gomide que foi assassinada pelo ex-namorado e também jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves em 2000; o menino João Hélio que ficou preso ao cinto de segurança e foi arrastado por mais de sete quilômetros pelos assaltantes que roubaram o carro em 2007; e o casal de jovens Liana Friedenbach e Felipe Caffé seqüestrados e assassinados em Embu-Guaçu – São Paulo, em 2003.

Já não basta a imprensa reviver o trauma a cada nova manchete quando o assunto ainda é atual, será mesmo relevante relembrar o drama anos depois? Definitivamente não. Vai de encontro aos princípios jornalísticos. Vai de encontro ao gosto da audiência. Sensacionalismo dos piores.

Sobre os critérios de seleção de notícias, Bourdieu disse que "os jornalistas têm os seus óculos particulares através dos quais vêem certas coisas e não outras, e vêem de uma certa maneira as coisas que vêem". Vamos trocar as lentes para enxergar melhor então, por favor!

2 comentários:

Anônimo disse...

também..olha qm comanda o "a casa é sua", Sonia Abrão;;;
sensacionalista do cu!

Caroline Scortegagna disse...

Roses... bem vinda a blogosfera.. gostei do teu bloguinho e principalmente do teu texto.. O jornalismo sensacionalista realmente extrapola os limites do bom-senso! Esses dias, de férias e com tempo na praia chuvosa assisti aquele idiota do Datena batendo em cima de um caso dum cara que tinha matado a mulher e deixado num freezer. Sim, isto mesmo. E ficou hoooras falando disso e minha avó assistindo achando que eu poderia ser colocada em um freezer. Não existe filtro sobre como dar a informação. Existe violência sim, mas não precisa jogá-la aos sete ventos!!!

Segue com o blog... eu agora prentendo tentar de verdade manter o meu atualizado e no ar!